A Petrobrás possui em São Mateus
do Sul/PR a unidade para processamento de Xisto, a partir da qual são
produzidos óleos, gases e nafta, etc. Esta planta possui uma série de
equipamentos especialmente projetados para esta aplicação, sendo um dos mais
críticos, do ponto de vista de confiabilidade, o forno de radiação, que utiliza
tubos de troca térmica confeccionados em aço inoxidável ferrítico ASTM A268 Gr
446.
Câmara do forno, do tipo vertical, com 8 feixes
de 30 tubos
(ASTM A 268 Gr.446),
com 15 m de comprimento cada um, sendo 12 m
na zona de
radiação. Possui 12 queimadores.
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Neste forno de radiação, o gás de
processo, sendo seu constituinte mais agressivo o gás sulfídrico (H2S), entra
nos tubos pela parte superior do forno, a uma temperatura de aproximadamente
320°C e sai a uma temperatura de aproximadamente 590°C. Para que este
aquecimento seja possível, a temperatura da parede externa do tubo pode chegar
a 800°C em alguns pontos. O feixe de tubo é fixado na parte superior por dois
suportes de mola, de carga constante, ajustados para 3.400 kgf cada um e a
parte inferior é apoiada em um berço fixo, de forma a distribuir a carga e
garantir que a porção superior fique em estado de tração.
Os fatos relatados a seguir ocorreram entre 1991 a 1997 e foram
constatados durante as 2 campanhas da unidade neste período.
Vista da fixação superior dos tubos do forno
onde aparecem
os tirantes que são fixados
ao suporte de mola na parte superior.
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Vista externa do forno sem o refratário e tampas,
onde pode
ser vista a fixação superior e inferior dos tubos.
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PRIMEIRA CAMPANHA DE PRODUÇÃO
Nesta campanha, o forno entrou em
operação em novembro de 1991, e na parada de manutenção seguinte, em maio de
1994, com 19.000 horas, os tubos foram totalmente substituídos em função de
trincamento nas soldas de ligação com o coletor superior. Nesta época já se
verificavam deformações nos tubos, nas regiões de mais alta temperatura. Essa
deformação dos tubos em direção à chama do queimadores provocou diversos rompimentos
de tubos e a unidade teve que interromper a produção diversas vezes para
manutenção.
Foi observado que os tubos
romperam de forma abrupta e frágil causada pela tração nos tubos, decorrente da
contração no resfriamento e consequente falta de espaço para movimentação. O
embarrigamento causou em encruamento do feixe tubular e, e durante o
comprimento final a frio era muito menor que o original, exigindo que o coletor
superior se encostasse ao batente após ter vencido todo o curso dos suportes de
mola que sustentam o coletor superior.
Deformação dos tubos do forno.
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Após bater no batente, a
contração térmica foi interrompida gerando tensões de tração elevadas. Estas
tensões levaram ao colapso quase a metade dos tubos.
Desta forma, surgiram trincas nas
soldas de ligação dos tubos com o coletor superior, principalmente nos tubos
localizados na parte central dos feixes. A explicação para ocorrê-las
(rupturas) na região central foi a constatação que o coletor superior era
flexível. Essa flexão acrescia tensão nos
tubos centrais dos feixes rompendo-os. Para reduzir a flexão foi
sugerido um aumento da sustentação através da colocação de mais dois suportes
centrais com mola.
Vistas esquemáticas, frontal e lateral, do feixe de tubos
deformado (GUIMARÃES, 2002.)
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SEGUNDA CAMPANHA DE PRODUÇÃO
Os tubos foram substituídos na
parada de manutenção de 1994 de material ASTM A268 Gr 446, porém com duas
composições químicas distinta sendo a única diferença, o teor de carbono contidos
nos mesmos (446-1 e 446-2, tendo o primeiro, maior teor de carbono).
A segunda campanha inicia em maio
de 1994 e termina em novembro de 1997, com a vida útil de 30.168 horas. Esse
maior desempenho e produtividade em elação a primeira campanha se deu a
melhoria nas condições operacionais, ou seja, melhor controle de temperaturas
no interior do forno, redução de ciclagem térmica e alteração no processo de
soldagem dos tubos coletores superiores
e inferiores.
Entretanto, os dois conjuntos de
feixes que utilizavam o aço 446-2 (menor carbono) saíram de operação devido ao
aparecimento de trincas transversais nas regiões onde o tubo apresentava um
depósito interno de cor escura extremamente dura e aderente. As trincas não
havia atingido a superfície externa, mas era possível verificar na inspeção
visual externa, marcas múltiplas e periodicamente espaçadas.
Tubo cortado sem hidrojateamento (a esquerda) e
com
hidrojateamento (a direita), respectivamente, apresentando
depósito escuro e
aderente mesmo após hidrojateamento.
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A seção longitudinal, contendo a
trinca de um tubo rompido, pode ser observada na metalografia sem ataque, onde
pode se distinguir quatro camadas no material.
- A primeira camada com material base;
- A segunda camada onde se pode observar corrosão intergranular;
- A terceira camada apresenta um resíduo proveniente da corrosão;
- A quarta camada mais escura, é um depósito de produtos basicamente oriundos do gás de processo (sulfetação devido a presença de gás sulfídrico).
Trinca propagando de dentro para fora do tubo.
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OBS: Esse dano nos tubos ocorria
na região de temperaturas máximas obtidas do lado interno da câmara, ou seja, na
região mais quente do tubo que fica voltada aos queimadores localizados na
região central do forno.
Desta forma, foi observado que as
trincas progrediram de dentro para fora em apenas um lado do tubo, na região
mais quente. Admitiu-se que a quebra no filme formado pelo depósito de produtos oriundos do gás de
processo, se deu devido à flexão dos tubos. Devido esta quebra, ocorreu o
acesso de gás ás camadas mais internas,
ultrapassando o filem formado e atingindo o metal base, facilitando e intensificando
o ataque corrosivo ocasionado pelo enxofre neste locais. Com a continuidade
deste processo de flexão, unido aos ciclos de variação de temperatura e paradas
de manutenção, tem-se a progressão deste processo através do metal base ate que
a seção leve ao rompimento do tubo.
CONCLUSÃO
Foi concluído que a causa básica
das falhas foi um processo misto de sulfetação em alta temperatura e
crescimento de trinca por corrosão preferencial da fase sigma (Fe-Cr), processo
este, agravado pela concentração de tensões devido à deformação dos tubos em
direção à chama e também intensificada pela ciclagem térmica. O mecanismo é
iniciado pela sulfetação homogênea na superfície interna dos tubos, gerando um
produto de corrosão composto basicamente de sulfeto de ferro e de cromo, com a
possibilidade de existência de sulfato de ferro.
Fonte:
ANÁLISE DE TUBOS DE AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO ASTM A 268 GR
446
SUBMETIDOS A TEMPERATURAS ELEVADAS E AMBIENTE COM GÁS
SULFÍDRICOS
por Paulo Cesar Ribeiro Porto.
Dissertação para obtenção do título de Mestre em Engenharia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.
Explanação e anotações das aulas do professor Sérgio
Roberto de Paula na
disciplina Fornos de Pocesso, da Equipe de Formação de
Inspetores – EFI / SINDIPETRO-LP.
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