domingo, 29 de junho de 2014

Caso 075: Rompimento do Corpo da Bomba.

Em 12 de outubro de 2001, às 5h20m, um operador do depósito de hidrocarbonetos localizado próximo a uma doca a margem do rio Sena na comuna de Hauts-de-Seine (vizinha a Paris), França, foi alertado por um motorista que ouviu um ruído estranho na bomba da estação No. 1. Ao verificar este alerta,  descobriu um vazamento de óleo combustível de forno (Furnace Fuel Oil - FFO) que alagou o poço de retenção da estação de bombas com cerca de 80 cm de FFO.

Estação de Bomba nº01

O vazamento  ocorreu em uma área de tancagem composta de 23 tanques, cada um com uma capacidade nominal de entre 537 m³ e 19.193 m³, para uma capacidade nominal total de aproximadamente 107.000 m³.

CAUSAS

Indicação do local
da ruptura.
O vazamento ocorreu na estação de bomba n° 01, onde uma das bombas teve seu corpo (carcaça) rompido devido à acumulação de tensões excessivas associadas:
  • Incorreto apoio das linhas e acessórios das linhas (sucção e recalque);
  • Linhas conectadas incorretamente à bomba.

O fenômeno foi agravado pela natureza da bomba (confeccionada em ferro fundido) que não suportou as tensões causadas pela má montagem da bomba no local e pela vibração mecânica resultante.
Além disso, o derrame do produto foi possível, como o resultante de várias disfunções:
  • Um detector de hidrocarboneto líquido foi instalado a 2 metros da bomba em questão, mas estava inoperante no momento do incidente;
  • O FFO foi interceptado por uma “armadilha” equipado com um plugue densimétrica (floaters) que impediu que o vazamento alcançasse o Sena, mas como o fechamento não foi imediato , várias centenas de litros de FFO vazaram para o Sena;
  • A bomba em questão era uma bomba de back-up que não estava em operação no momento do incidente, no entanto, um erro, que foi apontado posteriormente como má gestão operacional, as válvulas foram mantidas abertas permanentemente.


CONSEQUÊNCIAS

Cerca de 500 litros de FFO foi despejado indevidamente no Sena percorrendo uma distância de 3 km do ponto de origem do vazamento (foi constatado irisação ao longo deste trecho).
O prejuízo calculado pelos órgãos oficiais foi de cerca de 200.000 € (euros) pode ser especificado da seguinte forma:
  • Danos materiais: 112.000 €;
  • Descontaminação ambiental / custos de limpeza: 23.000 €;
  • Perdas operacionais: 61.000 €.


Detalhe: fratura frágil.

LIÇÕES APRENDIDAS
  • Inserção deste tipo de cenário no estudos e avaliação de risco;
  • Manter fechadas as válvulas manuais de sucção e recalque das bombas de back-up;
  • Promover avaliação de bombas e tubulações para elaboração de plano de ação com base na eliminação de tensões e verificação se o material utilizado é adequado para o trabalho. O plano também permite a substituição das bombas que apontem problemas semelhantes;
  • Manter os detectores de hidrocarbonetos em perfeito estado de conservação para que haja o fechamento rápido das válvulas durante um sinal de detecção, seja líquido ou gás.


Falha da montagem foi apontada
como principal causa da ruptura.

ESTUDOS PROPOSTOS
  • Estudo de sistema fechamento rápido destas válvulas durante a detecção do vazamento;
  • Verificação do posicionamento correto do dispositivo de detecção de hidrocarboneto, localizado na saída do separador. O dispositivo deve estar localizado na linha de recalque a jusante da válvula de bloqueio para evitar qualquer descarga para o Sena. Em caso de detecção, de reação e tempo de fechamento da válvula tem de ser tomado em consideração,
  • Um estudo sobre a instalação de uma barreira permanente fixo flutuante no ponto de lançamento Sena. Essa possibilidade de ter uma barreira flutuante operacional de forma permanente apresenta alguns problemas para as docas;
  • Estudo sobre o fechamento de todas as válvulas das estações de bombas quando a unidade estiver fora de operação.

  

Fonte:


MINISTÈRE DE L'ÉCOLOGIE, DU DÉVELOPPEMENT DURABLE ET DE L'ÉNERGIE (França).

domingo, 1 de junho de 2014

Caso 074: O Legado de SEVESO, Itália (1976).

A cidade de Seveso, na Itália, tornou-se mundialmente famosa quando em 10 de julho de 1976 um reator da indústria química ICMESA da multinacional suíça Hoffmann-La Roche (indústria farmacêutica), localizada na cidade de Meda, liberou acidentalmente vários quilogramas da dioxina TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina) na atmosfera e o produto espalhou-se por grande área na planície Lombarda, entre Milão e o lago de Como. 





Devido à contaminação, 3.000 animais morreram e outros 70.000 animais tiveram que ser sacrificados para evitar a entrada da dioxina na cadeia alimentar. Acredita-se que não tenha havido mortes de seres humanos diretamente vinculadas ao acidente, mas 193 pessoas nas áreas afetadas sofreram de cloracne e outros sintomas. O vazamento causou a contaminação de 1.800 hectares de terra. A nuvem tóxica depositou os seus venenos sobre o território das cidades de Meda, Cesano Maderno, Desio e Seveso. Devido à direção dos ventos, o território de Seveso foi o mais atingido.

Repentinamente, pássaros atingidos pela nuvem tóxica começaram a cair do céu e crianças foram hospitalizadas com diarreia, enjoos e irritação na pele.



Animais sacrificados.

Anos após o acidente, o número de vítimas de doenças cardíacas e vasculares em Seveso aumentou drasticamente, os casos de morte por leucemia duplicaram e triplicaram-se as ocorrências de tumores cerebrais. Os casos de câncer do fígado e da vesícula multiplicaram-se por dez vezes e aumentou o número de mortes em decorrência de doenças da pele. Gerou doentes crônicos e bebês com má formação congênita.
Somente 200 gramas dessa substância (dioxina cloracne), dissolvidas em água são capazes de provocar a morte de um milhão de pessoas. Essa dioxina é mil vezes mais tóxica do que o composto letal cianeto de potássio (cianureto).

As crianças de SEVESO.

O VAZAMENTO

Seveso isolada.
 Por volta das 12h30m, o reator no qual era produzido o tetraclorofenol, um componente intermédio utilizado na preparação de herbicidas e de uma substância anti-bacteriana (o hexaclorofeno), libertou uma nuvem tóxica de dioxina, na sequência de uma reação exotérmica inesperada.  A ocorrência dessa reação química foi particularmente interessante já que ocorreu num sábado às 12h30m, quando a instalação estava fechada para o fim de semana e nenhum processo estava em andamento. A mistura de produtos químicos que tinha sido deixada erroneamente no reator reagiu espontaneamente gerando calor e energia suficiente para posteriormente causar uma reação plena. Não se sabe ao certo como isto chegou a ocorrer, mas acredita-se que a produção foi paralisada no meio de um ciclo.

A partir dessa reação houve a expansão dos gases no interior do reator resultando no vazamento acidental devido a falha atribuída a uma válvula defeituosa do equipamento (reator). Porém, ficou evidenciado que a válvula não abriu por estar defeituosa e sim para evitar a explosão do reator por sobrepressão já que era uma válvula Vent que foi instalada justamente para isso (aliviar pressão). Como não havia operadores de produção naquele dia para acionar o sistema água de refrigeração, a reação química exotérmica ficou sem controle subindo a pressão perigosamente. O acionamento da válvula Vent para aliviar esta pressão é automática, dando origem assim ao “vazamento”. O grande problema é que a descarga dessa válvula era feita diretamente para atmosfera ao invés de um local seguro como um vaso de contenção, já que o produto era altamente tóxico.









O VÍDEO ABAIXO REPRESENTA GRAFICAMENTE 
A FALHA DE OPERAÇÃO, SEGURANÇA E PROJETO.





Como demonstrou a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o desastre, o acidente esteve diretamente relacionado com a falta de investimentos na segurança das instalações da fábrica. A Roche estava, todavia, a par dos riscos da produção de triclorofenol que já tinham surgido em casos anteriores de acidentes industriais. A fábrica não dispunha de sistema de advertência nem planos de alarme à população. O prefeito local, avisado do acidente com 27 horas de atraso, não foi informado de que se tratava de um vazamento de dioxina.
A palavra "dioxina" foi somente mencionada pela primeira vez nove dias após o acidente.



DESTINAÇÃO FINAL DA DIOXINA

O solo contaminado foi removido e lacrado em duas bacias de concreto do tamanho de um estádio de futebol. O conteúdo do reator foi guardado em 41 galões para tratamento final.

Em setembro de 1982, esse material foi transportado para França ilegalmente para um local desconhecido. Durante oito meses, os galões desaparecidos foram procurados em toda a Europa. A participação de detetives e serviços secretos na busca aumentou a pressão sobre as firmas envolvidas no escândalo. Muitos médicos passaram a boicotar produtos farmacêuticos da La Roche.
Finalmente, em maio de 1983, o esconderijo do veneno foi revelado. Os barris de dioxina foram depositados num sítio, a 60 metros de uma escola, num vilarejo de 300 moradores, no norte da França. Nove anos depois da catástrofe, o lixo tóxico foi incinerado em Basiléia, na Suíça.

Trabalho de acondicionamento.

O LEGADO

ICMESA.
Este evento mais tarde veio a ser conhecido como o Desastre de Seveso ou Acidente de Seveso e foi considerado como um dos maiores desastres ecológicas do mundo.
Motivado por este desastre ambiental, a União Européia criou uma política para a prevenção e controle dos perigos associados a acidentes graves envolvendo substâncias perigosas. Essa normativa é denominada DIRETIVA DE SEVESO e possui regulamentos industriais mais rígidos onde, muito países europeus classificam diversas fábricas como sendo de "tipo Seveso", quando existe alto risco de contaminação ambiental em caso de acidente.
A Diretiva de Seveso foi atualizada em 1999 e complementada em 2005 e é atualmente conhecida como Diretiva de Seveso II (ou Regulamentos COMAH no Reino Unido).



Fonte:

Moritz Kleine-Brockhoff em http://www.dw.de
http://pt.wikipedia.org
http://laboreal.up.pt