A corrosão é um problema
preocupante nas instalações de processamento de petróleo ao redor do mundo.
Atuar na metalurgia dos materiais empregados na construção de equipamentos,
através da adequação das ligas, é uma solução interessante. Neste contexto, os
aços inoxidáveis com alta resistência à corrosão por pites e, mais
especificamente, os aços com teor de molibdênio superior a 2,5% são mais
adequados em um ambiente que envolva ácidos inerentes ao processo de
refinamento de petróleo.
Podemos citar como exemplo o AISI 317L (Aço Inoxidável Austenítico ao
Molibdênio) com
0,03% de C, 2% de Mn, 0,75 % de Si, 18 a 20%
de Cr, 11 a 15% de Ni e 3 a 4% de Mo (valores segundo a norma ASTM
A240 /240M)
Micrografia da ZAC do aço AISI 316L
mostrando a presença de fase sigma.
Ataque químico com o regente Marble.
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Entretanto, a “proteção”
promovida pelo molibdênio nos aços inoxidáveis, o seu uso na indústria esbarra em problemas de ordem
metalúrgica, como por exemplo, a formação de uma quantidade considerável de
ferrita-σ em condições
de fabricação, principalmente durante a soldagem. A própria ferrita-σ pode ter um efeito negativo
nas propriedades dos aços inoxidáveis austenítico, como é o caso para
resistência a corrosão. Ainda mais grave é a sua composição para as fases
intermetálicas frágeis, sendo a fase sigma a de maior preocupação.
Por isso, estudar a cinética da
precipitação da fase-σ (Fe-Cr
e Fe-Cr-Ni )e sua influência nas propriedades dos aços austeníticos, em todos
os seus aspectos, é de particular interesse no projeto e análise de
integridade na operação de equipamentos
na indústria de petróleo.
Morfologia do trincamento na Zona Afetada pelo Calor (ZAC)
de uma solda de aço AISI 347. A trinca é intergranular e
segue através de uma fina redede fase sigma(σ).
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A fase sigma (σ ) é um composto com
estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado (TCC) com 30 átomos por
célula unitária. É uma fase rica em elementos estabilizadores de ferrita
(basicamente CR, Mo e Si), fazendo com que a formação da mesma nos aços com
ferrita σ se dê
basicamente a partir da ferrita. Além disso, a difusão de elementos formadores
de fase-σ,
particularmente cromo (Cr), é 100 vezes mais rápida na ferrita que na austenita,
fato esse que acelera sua formação. A precipitação dessa fase se inicia nos
contornos de grão ou nas regiões de interface e é intensificada pela exposição
à temperaturas da ordem de 700 a 900°C (alguns autores sugerem acima de 540°C).
Adições de tungstênio, vanádio, titânio e nióbio também promovem a formação da
fase- σ. Sua formação
nos aços inoxidáveis austenítico ocorre com o comprometimento da resistência à
corrosão devido ao empobrecimento do Cr e do Mo presente ao redor da fase-σ formada na matriz. Quando precipitada no aço,
a fase-σ compromete sua
tenacidade e ductilidade (fragilidade a baixa temperatura < 270oC),
resultando em falhas frágeis nos equipamentos muitas vezes em operação. Ela se
apresenta ao longo do contorno de grãos em forma de precipitado rendilhado
contínuo, duro e quebradiço.
Micrografia do aço UNS N08637 mostrando a formação de bandade precipitação de fase (σ) formada no resfriamento do material a partir da solidificação. |
Os materiais mais afetados são os
aços inoxidáveis com teor de Cr > 15%, e
Ni < 35% e com adição de Mo, um ferritizante, aumenta a susceptibilidade. O AISI 304 é praticamente
imune a fase sigma já que não possui Mo e o teor de Ni é baixo.
A detecção do dano é difícil já que sua
morfologia somente é percebida com a formação de micro precipitados (fase
sigma). Em casos extremos e em um estágio avançado, surgem trincas próximas as
soldas e em regiões tensionadas.
A melhor forma de prevenir a fase
sigma é trabalhar abaixo do limite de temperatura, controlar a % de ferrita (<4%)
durante soldagem. Pode ser solubilizado através de tratamento térmico em 1070 oC
a 4 horas.
O monitoramento pode ser feita através
da metalografia, testes de impacto e de dureza.
Fonte:
ESTUDO COMPARATIVO QUANTO A RESISTÊNCIA À
CORROSÃO ENTRE AÇOS INOXIDÁVEIS UTILIZADOS EM TROCADORES DE CALOR por Leonardo Paiva Sanches.
Projeto Final do Curso Engenharia Metalúrgica
pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 2009.
ESTUDO DA FORMAÇÃO DA FASE SIGMA EM AÇOS
INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS
por Rafael
Carlos Ferreira
Dissertação para obtenção do título de
Mestre em Engenharia. Especialidade: Inspeção de Equipamentos pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2009.
Explanação e anotações das aulas do professor Luiz Antonio Bereta na
disciplina Causas de Deterioração de Equipamentos,
da Equipe de Formação de Inspetores – EFI / SINDIPETRO-LP.
ONDE SE LÊ: O AISI 304 é praticamente imune a fase sigma já que não possui Mo e o teor de Ni é baixo.
ResponderExcluirDEVERIA SER: O AISI 304 é praticamente imune a fase sigma já que não possui Mo e o teor de Cr é baixo.