Classe Liberty foi uma
série de navios cargueiros (militar), construídos nos Estados Unidos durante a Segunda
Guerra Mundial.
Navio da Classe Liberty, alcunhados pelo então presidente Roosevelt durante a II Guerra Mundial como "Patinhos Feios". |
Com desenho original
britânico, as plantas foram adaptadas pelo engenheiro naval norte-americano
William Francis Gibbs surgindo navios de baixo custo e rápidos de construir.
Esta classe de navios simboliza a produção industrial em massa da Segunda
Guerra Mundial
Características técnicas
Deslocamento:
14.245 toneladas bruta (14.474 t)
Comprimento: 135
m (441 pés 6)
Boca: 17,3 m (56
ft 10,75 in)
Calado: 8,5 m
(27 ft 9,25 in)
Propulsão: Duas
caldeiras a óleo, expansão tripla motor a vapor, eixo único, 2.500 cavalos de
potência (1.864 kW)
Velocidade:
11-11,5 nós (20 a 21 km / h)
Autonomia:
23.000 milhas (37.000 km)
Capacidade de carga:
10.856 toneladas de porte bruto (TPB)
Tripulação: 40 -
60 homens
Armamento: 1
canhão Stern de 102 mm montado no deck para utilização contra os submarinos.
Metralhadoras anti-aérea.
1 - Fase inicial da montagem;
2 - Construção da primeira das anteparas transversais;
3 - A construção do convés inferior;
4 - Concluído antes do lançamento.
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Na Segunda Guerra
Mundial as estruturas dos navios eram soldadas para economizar tempo na
montagem devido a grande demanda de suprimentos que atravessavam o Oceano
Atlântico do EUA para Inglaterra principalmente, com a finalidade para
abastecer as tropas aliadas durante a época de guerra.
Foram construídos 4694 navios da Classe Liberty. Os primeiros não possuíam armamentos de defesa, como pode ser visto na foto. |
Os efeitos da
temperatura, dos concentradores de tensão e de tensões residuais não eram bem
compreendidos. Por esse motivo (desconhecimento metalúrgico da solda e dos materiais)
os navios da série Liberty tornaram-se um exemplo clássico de acidentes
provocados por fratura frágil até os dias de hoje. Muitos deles acabavam afundando antes de
cumprir a travessia do Atlântico, alguns fraturavam em alto mar e outros
atracados no porto onde foi observado
que o material perdia ductilidade necessária para resistir à baixa temperatura.
Navio John C. Butler (Classe Liberty) a esquerda sendo escoltado por navios de guerra no Atlântico Norte, protegendo-o contra as investidas dos submarinos alemães. |
A ductilidade dos materiais está relacionada a temperatura e a presença de
impurezas.
Materiais dúcteis se
tornam frágeis a temperaturas mais baixas. Isto pode gerar situações
desastrosas caso a temperatura de teste do material não corresponda à
temperatura efetiva de trabalho.
A fratura por fadiga
ocorre pela aplicação de tensões variáveis ao logo do tempo e é muito comum em
equipamentos que trabalham com sobrecarga cíclica, como componentes de
máquinas, asas de aviões, pontes e navios. A resistência à fadiga representa,
para um dado valor de tensão, o número de ciclos que o material suporta até
romper.
Observa-se a relação da queda de energia necessária para o rompimento do corpo de prova com a queda de temperatura. |
A baixa temperatura é
um fator de extrema importância no comportamento frágil dos metais. Na fratura
frágil, a energia necessária para propagar a fratura é normalmente baixa.
Devido à pequena energia absorvida, geralmente as fraturas frágeis são de grandes
proporções, podendo ser catastróficas como no clássico exemplo dos navios da
série Liberty, construídos durante a Segunda Guerra Mundial.
Foram construídos 4694
navios deste tipo, dos quais 1289
sofreram fratura frágil. Destas, 233 foram catastróficas, com perda
completa e, em 19 casos, os navios
partiram-se ao meio, como os navios tanques SS Schenectady e o Charles S. Haight, mostrados nas fotos abaixo. O
primeiro fraturou em 16 de janeiro de 1943, atracado no píer de acabamento do
estaleiro, com mar calmo. A fratura frágil foi súbita, sem aviso e foi ouvida
pelo menos a 1500 metros de distância. Fraturas deste tipo ocorreram tanto em
mares turbulentos como no cais, principalmente no inverno. Com a diminuição da
temperatura, foi evidenciada pela fratura dos navios a modificação no
comportamento do aço de dúctil para frágil.
Fratura frágil em navios Liberty ainda no porto. O SS Schenectady a direita. |
Navio Charles S. Haight - Vista da ruptura entre a secção central do navio e popa. |
Navio Charles S. Haight - detalhe do rompimento do casco. |
Na época sobraram
muitas críticas ao processo de soldagem, ao ensaio Charpy e a metodologia de
projeto (resistência dos materiais), o que levou ao desenvolvimento de uma nova
abordagem técnica, conhecida hoje como Mecânica da Fratura.
Charles S. Haight - vista da popa adernada para bombordo. |
Entretanto, temos que
salientar que a construção dos navios da classe Liberty fazia parte do
"esforço de guerra" norte-americano e, portanto, tinha que ser
baratos e rápidos construir.
Construídos para substituir os navios
torpedeados pelos submarinos U-Boat nazistas, foram montados rapidamente (pouca
mais de três meses) para garantir a uma linha de suprimentos para Inglaterra. Até hoje foi o maior número de
navios construídos a partir de um único projeto que previa uma vida útil de
cinco anos. No ápice da construção o navio Robert E. Peary construído pelos
estaleiros Oregon Shipbuilding Corporation de Portland / Oregon, iniciou sua
construção em 08/11/1942 e foi lançado ao mar dia 15/11/1942 (uma semana). Sem
sombra de dúvida, um recorde que provavelmente vai demorar muito para ser
quebrado.
Um dos estaleiros norte americanos que construíram os Liberty. |
Os Liberty, inicialmente conhecidos como os "navios de cinco anos
de vida útil",
continuaram a singrar os mares do mundo inteiro por muito mais tempo que o
planejado, sendo que o último Liberty a operar comercialmente foi o
chinês Zhan Dou 43, que navegou até 1987.
A verdade é que muitos
desses navios sobreviveram muito tempo além da expectativa prevista, porém os
que falharam catastroficamente atraem mais a atenção, e com toda razão, já que
um terço da frota Liberty fraturou.
SS Jeremiah O'Brien, construído em 56 dias em 1943. Hoje, navio-museu, atracado no porto de San Francisco (EUA). |
A lição que podemos
tirar dessa história foram os prejuízos materiais e perdas de vidas, fruto da
pressa e do desconhecimento técnico, porém, concebíveis em tempos de conflito onde pela época e a emergência da situação, o controle de qualidade era quase inexistente.
Por mais insensível que possa parecer "Guerra é Guerra". Não
justifica, mais explica o porquê de tantas falhas, daqueles funestos anos de
guerra (1939 a 1945).
Podemos citar, neste
caso, um velho ditado que retrataria a correria em um estaleiro para se
construir um navio da classe Liberty: "Ou
vai, ou racha". Pois é, 1/3 dos navios racharam!!!!!
CASO CORRELATO
(CLICK NO TÍTULO)
(CLICK NO TÍTULO)
Fonte:
Arnobio Ignacio Vassem Júnior - Estudo de Efeitos Dinâmicos até o Início
da Fratura Frágil.
Prof. Carlos Baptista - Ensaios de Materiais/Universidade de São
Paulo.
Prof. Cláudio G. Schön, Prof. André Paulo Tschiptschin e Prof. Hélio Goldenstein -
Fratura
dos Materiais - Noções de Mecânica da Fratura.
Fotos do Charles S. Haight por Ted Dow.
Explanação das aulas do professor Maurício de Oliveira
da Equipe de Formação de Inspetores – EFI / SINDIPETRO-LP.