A cidade de Seveso, na Itália,
tornou-se mundialmente famosa quando em 10 de julho de 1976 um reator da
indústria química ICMESA da multinacional suíça Hoffmann-La Roche (indústria
farmacêutica), localizada na cidade de Meda, liberou acidentalmente vários
quilogramas da dioxina TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina) na atmosfera
e o produto espalhou-se por grande área na planície Lombarda, entre Milão e o
lago de Como.
Repentinamente, pássaros
atingidos pela nuvem tóxica começaram a cair do céu e crianças foram
hospitalizadas com diarreia, enjoos e irritação na pele.
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Animais sacrificados. |
Anos após o acidente, o número de
vítimas de doenças cardíacas e vasculares em Seveso aumentou drasticamente, os
casos de morte por leucemia duplicaram e triplicaram-se as ocorrências de
tumores cerebrais. Os casos de câncer do fígado e da vesícula multiplicaram-se
por dez vezes e aumentou o número de mortes em decorrência de doenças da pele. Gerou
doentes crônicos e bebês com má formação congênita.
Somente 200 gramas dessa
substância (dioxina cloracne), dissolvidas em água são capazes de provocar a
morte de um milhão de pessoas. Essa dioxina é mil vezes mais tóxica do que o
composto letal cianeto de potássio (cianureto).
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As crianças de SEVESO. |
O VAZAMENTO
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Seveso isolada. |
Por volta das 12h30m, o reator no qual era
produzido o tetraclorofenol, um componente intermédio utilizado na preparação
de herbicidas e de uma substância anti-bacteriana (o hexaclorofeno), libertou
uma nuvem tóxica de dioxina, na sequência de uma reação exotérmica inesperada. A ocorrência dessa reação química foi
particularmente interessante já que ocorreu num sábado às 12h30m, quando a
instalação estava fechada para o fim de semana e nenhum processo estava em
andamento. A mistura de produtos
químicos que tinha sido deixada erroneamente no reator reagiu
espontaneamente gerando calor e energia suficiente para posteriormente causar
uma reação plena. Não se sabe ao certo como isto chegou a ocorrer, mas
acredita-se que a produção foi paralisada no meio de um ciclo.
A partir dessa reação houve a
expansão dos gases no interior do reator resultando no vazamento acidental devido a falha atribuída a uma válvula
defeituosa do equipamento (reator). Porém, ficou evidenciado que a válvula não
abriu por estar defeituosa e sim para evitar a explosão do reator por
sobrepressão já que era uma válvula Vent que foi instalada justamente para isso
(aliviar pressão). Como não havia operadores de produção naquele dia para acionar
o sistema água de refrigeração, a reação química exotérmica ficou sem controle
subindo a pressão perigosamente. O acionamento da válvula Vent para aliviar
esta pressão é automática, dando origem assim ao “vazamento”. O grande problema
é que a descarga dessa válvula era feita diretamente para atmosfera ao invés de
um local seguro como um vaso de contenção, já que o produto era altamente
tóxico.
O VÍDEO ABAIXO REPRESENTA GRAFICAMENTE
A FALHA DE OPERAÇÃO, SEGURANÇA E PROJETO.
Como demonstrou a Comissão
Parlamentar de Inquérito sobre o desastre, o acidente esteve diretamente relacionado
com a falta de investimentos na segurança das instalações da fábrica. A Roche
estava, todavia, a par dos riscos da produção de triclorofenol que já tinham
surgido em casos anteriores de acidentes industriais. A fábrica não dispunha de
sistema de advertência nem planos de alarme à população. O prefeito local,
avisado do acidente com 27 horas de atraso, não foi informado de que se tratava
de um vazamento de dioxina.
A palavra "dioxina" foi
somente mencionada pela primeira vez nove dias após o acidente.
DESTINAÇÃO FINAL DA DIOXINA

Em setembro de 1982, esse
material foi transportado para França ilegalmente para um local desconhecido.
Durante oito meses, os galões desaparecidos foram procurados em toda a Europa.
A participação de detetives e serviços secretos na busca aumentou a pressão
sobre as firmas envolvidas no escândalo. Muitos médicos passaram a boicotar
produtos farmacêuticos da La Roche.
Finalmente, em maio de 1983, o
esconderijo do veneno foi revelado. Os barris de dioxina foram depositados num
sítio, a 60 metros de uma escola, num vilarejo de 300 moradores, no norte da
França. Nove anos depois da catástrofe, o lixo tóxico foi incinerado em
Basiléia, na Suíça.
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Trabalho de acondicionamento. |
O LEGADO
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ICMESA. |
Este evento mais tarde veio a ser
conhecido como o Desastre de Seveso ou Acidente de Seveso e foi considerado
como um dos maiores desastres ecológicas do mundo.
Motivado por este desastre
ambiental, a União Européia criou uma política para a prevenção e controle dos
perigos associados a acidentes graves envolvendo substâncias perigosas. Essa
normativa é denominada DIRETIVA DE SEVESO e possui regulamentos industriais
mais rígidos onde, muito países europeus classificam diversas fábricas como
sendo de "tipo Seveso", quando existe alto risco de contaminação
ambiental em caso de acidente.
A Diretiva de Seveso foi
atualizada em 1999 e complementada em 2005 e é atualmente conhecida como
Diretiva de Seveso II (ou Regulamentos COMAH no Reino Unido).
Fonte:
Moritz Kleine-Brockhoff
em http://www.dw.de
http://pt.wikipedia.org
http://laboreal.up.pt
Muito bom esse artigo, me ajudou muito! :D
ResponderExcluirVocê sabe se a Empresa foi responsabilizada civilmente por este desastre e pagou alguma indenização?
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