Em 24 de novembro de 1978, o M/T
Betelgeuse parte do Porto de Ras Tanura no Golfo Pérsico com destino à Leixões
– Portugal, com um carregamento com 74 mil toneladas óleo pesado, e 40 mil
toneladas de óleo leve. O M/T Betelgeuse tinha 121.432
toneladas e estava registrado em nome da Total S/A, no porto de Le Havre,
França e foi lançado ao mar em 1968. O navio fazia parte da frota de propriedade de economia
mista (Governo da França/Acionistas).
M/T Betelgeuse (Foto: Michmagne). |
Originalmente, o M/T Betelgeuse
iria tocar o Porto de Sines em Portugal para aliviar parte da carga, porém as
condições de tempo não permitiram. Devido a estes imprevistos o navio foi direcionado
para um porto mais “seguro”, que foi o de Whiddy Island, na Irlanda.
Antes de rumar para Whiddy
Island, o Betelgeuse faz uma curta passagem por Vigo, Espanha, para trocar
parte da tripulação, seguindo então para Bantry Bay, porém durante a passagem
pelo Golfo de Biscaia, o navio enfrentou um mar grosso, e após isto é relatado um
vazamento de óleo dos tanques. Assim que descoberta a origem e sanado o problema
o navio retorna ao curso normal, chegando em Bantry Bay no dia 4 de Janeiro de
1979.
No dia 08 de Janeiro as 20 horas
o Betelgeuse finalmente atraca no píer offshore em Bantry Bay, com 30 metros de
profundidade.
As 23h30m do mesmo dia o começa o
descarregamento das 114 mil toneladas do óleo começando com o descarregamento
do óleo pesado primeiro. Era esperado o fim do descarregamento dentro das
próximas 36 horas. Aumenta o número de pessoas a bordo enquanto o navio
descarrega, inclusive a esposa do comandante embarca enquanto o navio estava
atracado.
O naufrágio do petroleiro francês Betelgeuse que explodiu no terminal de petróleo de Whiddy Island em 08 de janeiro de 1979 . |
A EXPLOSÃO
As 01h00m (aproximadamente) de
segunda-feira (09 de Janeiro), repentinamente um som surdo e bem alto de aço
contorcendo ecoa pelo cais vindo do casco do navio, seguido de uma grande
explosão. A força da explosão lança os operários que estavam no cais à vários
metros de distância no mar. Moradores da região relataram ter visto o
Betelgeuse “engolfado” por uma grande abóboda de chamas por alguns instantes, e
uma série de grandes explosões ocorrem em seguida, partindo o navio ao meio. A
maior parte do óleo leve ainda estava a bordo, com isto este óleo ficou queimando
gerando altas temperaturas de até 1000 °C. Todo o píer é tomado pelas chamas,
dificultando a aproximação das brigadas de incêndio. Os esforços dos bombeiros
se concentravam em não permitir que o pátio de tanques (12 tanques com 80 mil
toneladas cada), que estavam a 360 metros do píer, não fosse atingido, e tentando
a todo custo, conter o derramamento de óleo.
Os restos do Betelgeuse queimaram
ainda por 12 horas. Ao final disto, a polpa do navio afundou em profundidade de
40 metros, restando apenas parte da proa que ainda permaneceu fora d’água, com
bastante óleo remanescente. Somente depois de duas semanas foi possível que equipes
de resgate mergulhassem na seção da polpa para resgatar os corpos que ainda estavam
no interior das acomodações.
FALHAS DE GESTÃO
Anodos de sacrifício são fixados no casco do navio. |
Desta forma, não ficou
caracterizado falha de inspeção ou manutenção, já que os problemas foram identificados
e relatados, porém a decisão de não promover a manutenção devida, foi ponto
crucial para o trágico fim do Betelgeuse.
Outro fator importante foi a
ausência de dispositivos de gás inerte no navio que foi construído antes da
convenção MARPOL (Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por
Navios), e o armador sequer se preocupou em adaptar o navio. Devido à má
conservação e falta de reparos nos tanques, era comum vazamentos dos tanques de
carga para os de lastro segregado, o que realmente ocorreu dias antes da enorme
explosão. Estes constantes vazamentos para estes tanques que não possuíam
sequer pintura interna, ocasionaram uma mistura mortal. Gases acumulam-se
nestes tanques, e qualquer centelha era o suficiente para mandar o navio pelos
ares.
A proximidade da área de tancagem do terminal de Whiddy Island, foi a principal preocupação dos bombeiros. |
INVESTIGAÇÃO
Nas investigações veio à tona
toda a verdade, ensaios provaram que a estrutura do navio estava muito
deteriorada, apesar de ser um navio com apenas 10 anos de mar, ele estava em
estado lamentável. Os navios tanques construídos antes de 1975, tinham arranjos
de tanques diferentes dos mais novos que eram mais reforçados. A Bureau Veritas
(BV) que era a sociedade classificadora, havia emitido certificados de classe para o navio que não possuía planta de gás
inerte, e os tanques de lastro segregado estavam muito corroídos, além
apresentar deficiências também nos tanques de carga, mesmo assim o navio foi
liberado para operar. A investigação revelou que o navio explodiu após partir
ao meio, exatamente na posição dos tanques de lastro segregados, apesar de não haver
sobreviventes para confirmar se os tanques estavam sendo lastrados ou não,
enquanto a carga era descarregada. O navio sofreu envergamento da estrutura até
ceder, provavelmente no local onde a corrosão reduziu a espessura da estrutura
sobrecarregando a espessura remanescente (ponto fraco), e com gases no interior
dos tanques de lastro, uma grande explosão destruiu tudo ao redor.
Fato é que acidente similar
ocorreu com outro navio 1 ano depois em Rotterdam, com o VLCC Energy
Concentration, que partiu-se ao meio, porém não explodiu graças ao sistema de
gás inerte que preservou seus tanques, e carga, salvando da destruição tanto o
navio, terminal e sua tripulação.
Cena trágica. Navio em chamas e sem sobreviventes.
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CONSEQUÊNCIAS
Içamento de uma seção, após quase dois anos. |
Como sempre, as vítimas foram os tripulantes e operários do terminal. Apesar do tribunal ter condenado a Total e a BV, por negligência, é mais fácil culpar quem perdeu a vida, e ambas fizeram o possível para se isentar de culpa, inclusive tentaram culpar o terminal (foi provado depois que não houve qualquer falha no terminal). Neste terrível acidente 50 pessoas perderam suas vidas, o que inclui mais de 42 tripulantes do M/T Betelgeuse. Este sinistro faz parte hoje de uma lista dos mais terríveis acidentes ocorridos na indústria marítima.
35° de inclinação da proa. O
restante sucumbiu a 40 metros de profundidade.
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DOCUMENTÁRO: O
SALVAMENTO DO BETELGEUSE
Os restos do M/T Betelgeuse
levaram 573 dias de trabalhos ininterruptos para ser removidos de uma
profundidade que variava entre 30 à 40 metros. A maior equipe de salvamento de
navios foi formada para esta operação que foi a mais cara até então ao custo de
120 milhões de doláres, e a mais complexa já realizada até os dias atuais. A
Smit Tak foi obrigada a desenvolver novas técnicas além de novos equipamentos
superdimensionados para essa Hércula tarefa. Enquanto começavam a operação foi
constatado que o navio estava partido em 3 grandes blocos, dois destes
submersos, e em péssimo estado. O terminal de Bantry Bay foi desativado após
este acidente, restando um memorial com o sino do navio em homenagem às vítimas
e duas tumbas com os restos de dois tripulantes que não tiveram os corpos
reconhecidos por ninguém.
VEJA O DOCUMENTÁRIO ABAIXO.
MUITO INTERESSANTE O TRABALHO DE "SALVAMENTO"
DO NAVIO BETELGEUSE.
Fonte:
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