Em geral, os fabricantes
especificam o produto para suportar esforços abaixo do limite elástico, estes
ensaiam os materiais, controlam o processo de produção e tomam todos os
cuidados para que o produto não apresente qualquer problema. Apesar de todas
essas precauções, é possível que, após algum tempo de uso normal, de repente,
sem aviso prévio e sem motivo aparente, o produto simplesmente venha a falhar.
Essa falha é típica de um fenômeno chamado fadiga. Não foi diferente com as
aeronaves COMET que começaram a cair como moscas, sem motivo aparente.
A fadiga de materiais começou a
se tornar séria quando ela provocou esses acidentes aeronáuticos. Na alvorada da era do jato comercial, o
pioneiro de Haviland Comet tinha cabine pressurizada para manter o nível de
oxigênio e o controle de temperatura. Essa pressurização era feita
durante o voo antes de alcançar altitudes
elevadas e despressurizado antes do
pouso. Como uma bola de balão inflável, sistematicamente a estrutura era inflada e desinflada a cada voo, exigindo da estrutura
e fuselagem resistência tanto pela dilatação oriunda da pressurização como
ainda dos esforços aerodinâmicos.
O De Havilland Comet, ou
simplesmente Comet, de origem inglesa, foi o primeiro avião comercial
propulsionado por motores a jato fabricado no mundo. Com quatro reatores na
raiz de suas asas, o Comet começou a operar em 1952 pela companhia aérea
inglesa BOAC. Foi um grande sucesso, pois voava com o dobro da velocidade dos
seus concorrentes da época, porém, com um enorme consumo de combustível, suas
rotas eram curtas. Entretanto, em 2 de maio de 1953, exatamente um ano após o
início dos voos regulares com os Comet, a aeronave da BOAC de prefixo G-ALYV,
decolou de Calcutá, Índia e explodiu, sem aviso, sobre o mar. Após breve
investigação, os Comets continuaram a voar e de fato o fizeram, sem maiores
complicações por oito meses, até as 10h30 da manhã do dia 10 de janeiro de
1954, inesperadamente, o Comet G-ALYP, que havia decolado de Roma se
desintegrou enquanto sobrevoava o mar, perto da Ilha de Elba, matando seus
trinta e cinco ocupantes.
Voo inaugural do COMET. |
Os voos foram suspensos por algum tempo, mas assim
que foram retomados, outra aeronave se despedaçou em pleno ar, novamente
matando todos os ocupantes. Os navios de salvamento da Marinha Real Britânica
foram enviados ao local do primeiro acidente para resgatar as peças do avião
que estavam submersas, já que o segundo acidente aconteceu sobre águas
profundas, resgatando dos terços das peças. Os destroços foram, então, enviados
a Farnborough, Inglaterra onde o Comet acidentado foi cuidadosamente remontado,
utilizando-se peças novas no lugar das que não foram resgatadas do avião
acidentado.
Um outro Comet foi colocado em um
tanque com água, para simular a mesma situação de diferença de pressão
atmosférica e desgaste de material (VEJA
O VÍDEO ABAIXO).
O VÍDEO ABAIXO É BEM DIDÁTICO PARA ENTENDER
O QUE OCORRIA COM OS COMET’s NA DÉCADA DE 1950
OBSERVAÇÃO:
Até então a maioria dos
aviões da época voavam a baixas altitudes, onde a pressão atmosférica era
semelhante à da superfície da Terra. Porém, os aviões a jatos necessitam voar a
uma altitude muito grande para evitar turbulências e tempestade, onde a pressão
atmosférica é mínima. Como o ser humano não consegue ficar consciente com uma
pressão muito baixa, os aviões a jato precisam ter um sistema que deixe a
pressão dentro do avião bem maior que a de fora.
Descobriu-se finalmente que os
projetistas não tinham preparado a estrutura para ser usada com essa diferença
de pressão, logo os aviões eram verdadeiras “bombas” voadoras. Bastou uma
rachadura no teto do primeiro Comet acidentado para que ele se desintegrasse em
pleno voo. Neste caso do Comet G-ALYP resgatado do fundo do mar, a rachadura
havia se iniciado onde a superfície metálica fora cortada em retângulo, para a
instalação de uma antena de ADF (Automatic Direction Finding). Também as
janelas dos primeiros Comet eram quadradas. As janelas era um erro de projeto o
que criava pontos de tensão nas extremidades.
Os erros de projeto cometidos no
Comet tiveram pelo menos uma consequência positiva. Depois deles (final da
década de 1950), todos os jatos comerciais já saíram das pranchetas com janelas
arredondadas, para eliminar pontos de tensão que pudessem causar a fadiga e o
rompimento brusco da fuselagem.
CAUSAS
Causa Imediata: ruptura abruta do material por fadiga mecânica,
devido concentração de tensões em cantos vivos na fuselagem do avião.
Causa Básica: desconhecimento do mecanismo de fadiga dos materiais
levando ao erro de projeto da aeronave.
SURGE A INSPEÇÃO SISTEMÁTICA NA AVIAÇÃO
A estrutura da aeronave é, deve
ser projetado para sustentar danos estruturais sem comprometer a segurança do
avião até um tamanho crítico de danos.
Esses danos devem ser detectados
facilmente por inspeção visual entre voos. Todas as inspeções são feitas
baseados em cálculos de propagação de trincas que garantem que uma trinca
observada não é suscetível a crescer até o tamanho crítico entre dois ciclos de
inspeção, onde neste momento se for crítico, será reparada adequadamente .
Os END’s mais utilizados para verificação do problema são: Líquido Penetrante,
Partículas Magnéticas, Ultra-som e Radiografia.
O aço comercial AISI 4340 é
amplamente utilizados na indústria aeronáutica e espacial por combinarem
resistência e tenacidade, podendo trabalhar nos mais variados tipos e níveis de
solicitações. Ele tem elevados valores dos limites de escoamento e resistência
à tração.
CASO RECENTE (nem tanto assim...)
Em 28 de abril de 1988, o Boeing
737 da Aloha Airlines decolou do aeroporto da cidade de Hilo, no arquipélago do
Havaí, em uma breve viagem de rotina até Honolulu, numa ilha próxima. Alguns
dos noventa passageiros reclamaram um pouco da turbulência no início do voo,
mas, minutos depois, o sinal luminoso mandava manter os cintos de segurança
atados (isso salvou vidas). Pois, assim que o avião, com dezenove anos de uso,
nivelou a 7 000 metros, a altitude prevista de voo, ouviu-se um forte estrondo
e, subitamente, o teto da primeira classe desapareceu no ar deixando um rombo
de 6 metros na fuselagem acima e ao lado da fileira de assentos.
Boeing 737 da Aloha Airlines logo após o acidente. |
Quase no mesmo
instante, uma comissária, de pé no corredor, foi sugada para fora. O número de
vítimas poderia ter sido maior, não fosse a perícia do piloto em fazer um pouso
de emergência num aeroporto próximo; todos os passageiros e o restante da
tripulação se salvaram.
Evacuação da aeronave após pouso bem sucedido (quase um milagre). |
A investigação apontou que a causa do acidente foi uma combinação de corrosão e fadiga das partes mecânicas da aeronave, que tinha 19 anos de uso e mais de 89 mil voos registrados.
Após o acidente, a empresa iniciou um programa de
fiscalização e inspeção das aeronaves para verificar a manutenção dos
aviões com muitas horas de voo.
Leia no ainda no BLOG complementando o assunto:
FALHA POR FADIGA
FRATURADOS MATERIAIS (FRÁGIL E DÚCTIL)
Fontes:
http://super.abril.com.br/
http://hangardeplastico.net/
http://aerospaceengineeringblog.com/
http://culturaaeronautica.blogspot.com.br/
Enciclopédia Descobrir, Editora Globo, 1990.
Explanação e anotações
das aulas do professor Maurício de Oliveira na
disciplina Ensaios
Mecânicos da Equipe de Formação de Industrial – EFI / SINDIPETRO-LP.
bem esclarecedor me ajudou muito com um trabalho obg
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