Um dos problemas mais sérios e
comuns em unidades industriais que possuem tubulações e equipamentos isolados é
a corrosão sob o isolamento ou Corrosion Under Insulation (CUI).
Esta é uma corrosão eletroquímica que evolui silenciosamente sob o isolamento
térmico ou materiais de proteção passiva (fireproofing), como o concreto, com
uma taxa de corrosão acelerada quando comparada a taxa que ocorre em tubulações
sem isolamento expostas a atmosfera (sistema aberto).
Linha corroída devido infiltração de umidade através do isolamento térmico. |
O isolamento e o fireproofing
torna-se uma “capa” para a corrosão se esconder e o meio ambiente adequado para
se iniciar e desenvolver. Esta cobertura retêm umidade ou produtos químicos e
criam condições para o ataque corrosivo. Por estar oculto, este processo
geralmente se desenvolve sem ser percebido por muitos anos e pode resultar em
falha.
Além de ser comum em tubulações,
ocorre em tanques, ou outros equipamentos onde isolamento térmico deficiente
(mal instalado) ou danificado permite a entrada de água, escondendo o mecanismo
de deterioração sob o isolamento, não permitindo que você o note.
CUI no costado de um tanque de armazenamento. |
Os materiais isolantes se não estiverem bem protegidos
mecanicamente e selados contra a entrada de umidade tendem a absorver uma
quantidade significativa de água, para se ter uma ideia, um dos materiais
isolantes mais utilizados na indústria para serviços com temperatura acima da temperatura
ambiente é o silicato de cálcio, este material é altamente higroscópico, ele
absorve entre 10-14% do seu volume em água. Ver uma tabela retirada do artigo
“Corrosion: understanding the basics” por Joseph R. Davis (ASM International
2000) comparando alguns materiais isolantes.
Sob o isolamento cria-se um sistema fechado que mantém a
presença de umidade até 175 °C, ou seja, a evaporação da água oxigenada é
limitada, o que promove uma maior taxa de corrosão devido a temperatura mais
alta, conforme pode ser visto gráfico abaixo adaptado do trabalho de Speller,
Corrosion – Causes and Prevention, 1935, Mcgraw-Hill.
OBS: A literatura técnica
sugere que a CUI pode ser uma preocupação para equipamentos operando em
temperaturas entre 4°C e 175°C, porém a
pratica revela que é bastante comum sua ocorrência com temperaturas até 120°C.
Esta umidade absorvida pode vir da chuva, sistema provisório
de resfriamento (jato d’água) ou de equipamentos como torres de refrigeração que
associados a contaminantes com presença de cloreto e enxofre (chuva ácida)
promove uma corrosão ainda mais acentuada, em especial nos aços inox austeníticos
(série 300) levando a outros mecanismos de corrosão fraturante como a corrosão
sob tensão (stress cracking corrosion).
Como
todo este processo ocorre “escondido” da
inspeção visual, sua detecção na maioria das vezes só ocorre com a presença de
vazamento. Esta ação silenciosa a torna uma das mais perigosas.
Imagem retirada de um guideline que trata da CUI desenvolvido
pela National Association of Corrosion Engineers - NACE,
com a colaboração da Exxon, Shell, BP entre outras.
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A dificuldade no controle da CUI é a garantia da impermeabilidade/vedação
da estrutura de proteção do isolamento devido aos seguintes fatores:
- As irregularidades geométricas e a própria vida útil dos materiais selantes que tendem sempre a ressecar e permitir passagem;
- Pela própria necessidade de acompanhar a vida útil das tubulações através de medição de espessura, sempre ocorre à necessidade de abrir janelas de inspeção que levam a entrada da umidade, e se não forem feitas recompostas corretamente deixam “brechas”;
- Pontos “mortos” da tubulação como drenos e vents sempre tem sua temperatura abaixo da condição máxima e estes pontos são sempre os mais susceptíveis a entrada de umidade;
- Materiais de isolamento térmico típicos de sistemas de alta temperatura, como o silicato de cálcio, são altamente higroscópicos, e isto pode ocorrer durante a instalação/montagem se não tomados os devidos cuidados e durante a operação nas “brechas” citadas acima.
Alguns fatores contribuintes para a CUI incluem:
- Água presente no isolamento, por causa de armazenamento impróprio antes da instalação imprópria, ou danos após a instalação do isolamento. Isso pode ser agravado se houver contaminação química da água embebida no isolamento – por exemplo, por ácidos e outros químicos, ou cloretos, tais como o sal presente no ar próximo a água salgada ou por produtos químicos provenientes de degelo;
- A CUI pode ocorrer em regiões mais afastadas do ponto real de vazamento – especialmente em pontos mais baixos. Você pode estar vendo um vazamento pelo isolamento, mas não necessariamente o ponto real de vazamento na tubulação;
- Pequenos orifícios ou pequenos vazamentos a partir de juntas e conexões sob o isolamento podem permanecer não detectados até que o dano cause um grande vazamento.
Isolamento danificado facilita a infiltração de água. |
EXEMPLOS DO QUE PODE ACONTECER
- Um tubo de 4” contendo amônia líquida vazou por causa de corrosão extensiva. A qualidade do isolamento era ruim permitindo a entrada de água através do isolamento. A tubulação tinha sido parcialmente inspecionada durante a última parada, mas essa seção de tubulação em particular não havia sido examinada.
- Uma tubulação de 1” de alimentação de gás inflamável se rompeu por causa da perda de espessura do tubo devido à corrosão sob o isolamento, causando um incêndio. Era uma tubulação de by pass que de fato não estava em operação na ocasião. Por não haver fluxo através da tubulação, ela estava mais fria que a tubulação principal (cerca de 80° C). Essa temperatura era baixa o suficiente para fazer condensar vapor ou a umidade do ar. A água na forma líquida, em contato com o tubo com isolamento, não evaporava rapidamente. Isso, em combinação com o isolamento danificado, criou as condições que tornaram mais favorável o aparecimento de corrosão.
- A foto abaixo mostra corrosão externa em linha de transferência de fenol. A linha era isolada e falhou antes da corrosão ser descoberta. Embora ninguém tenha se ferido, foi muito custoso corrigir os danos ambientais e reparo da tubulação.
Linha de fenol "atacada" pela CUI. |
O QUE PODE SER FEITO
1. Saber quais
estruturas e equipamentos no seu processo que tenham potencial para corrosão
sob o isolamento. Veja abaixo os itens apontados pelo API-570 (Piping Inspection
Code: In-service Inspection, Rating, Repair, and
Alteration of Piping Systems) e a NACE-198:
a. Aquelas
áreas expostas ao gotejamento de torres de refrigeração;
b. Aquelas
expostas a vents de vapor;
c. Aquelas
expostas a gotejamento de misturas ou vapores ácidos;
d. Sistemas
de tubulação em aço carbono e baixa liga isoladas, incluindo isolamento para proteção
pessoal, operando entre 4°C a 175°C ou
serviços intermitentes;
e. Acima
de 175°C, quando trabalham com serviços intermitentes;
f. Linhas
de vent e dreno com trechos “mortos” que trabalham em temperaturas inferiores a
temperatura da linha principal;
g. Tubulações
de aço inox que operam entre 60°C e 205°C, sujeitas a presença de cloreto;
h. Sistemas
sujeitos a vibração que está susceptível a danificar o isolamento criando
caminho para entrada de água;
i. Outros
sistemas que o isolamento esteja susceptível a dano.
Em muitos casos podemos observar o estufamento do isolamento térmico quando o óxido "empurra" o mesmo devido seu aumento de volume. |
2. Durante a inspeção da
sua unidade, fique atento aos sinais de corrosão “escondida” como:
a. Manchas de
ferrugem ou descolorações do isolamento;
b. Abaulamentos,
empolamentos , estufamentos do isolamento térmico, pois o produto de corrosão (óxido de ferro) tende
a empurrar o isolamento devido o seu
aumento de volume durante a formação do óxido no aço carbono;
c. Pequenas fugas
de gotas de vapor ou odores pelo isolamento;
d. Verifique pontos
de acúmulo de umidade;
e. Inspecione mas não
toque, se você interferir num equipamento acentuadamente corroído, um vazamento
pode ocorrer. Pare o sistema avaliando a classe do produto, pressão e
temperatura do equipamento, antes de remover o isolamento, caso perceba
corrosão significativa no ponto inspecionado.
3. Adotar técnicas
de inspeção que não requeiram retirar o isolamento como radiografia ou
a termografia.
Pontos quentes evidenciam muitas vezes baixa espessura. Se sua linha for isolada e possui condições para infiltração e conservação da umidade, suspeite da CUI. |
4. Adotar especificações de pintura ou revestimento
especial adequado para as condições operacionais antes de isolar as estruturas,
esta recomendação é obrigatória para materiais em aço carbono e baixa liga com
risco de CUI. Para linhas em aço inox deve-se verificar se há risco de presença
de cloreto, pois a falha pode torna-se catastrófica, sendo muito mais custosa
do que o investimento em pintura destas estruturas “nobres”.
5. Para tubulações
isoladas apenas com intuito de proteção pessoal (temperaturas > 60°C)
deve-se avaliar a adoção de outros meios de proteção como grades ou barreiras
físicas ao invés de aplicar isolamento térmico.
6. Para os trabalhadores da manutenção e da
construção/montagem de plantas de processo:
- Certifique-se que a instalação esteja sempre de acordo com os procedimentos especificados. Isso inclui coberturas e vedações apropriadas do isolamento e revestimento ou pintura adequada do equipamento a ser isolado;
- Se tiver de remover o isolamento, proteja o isolamento removido até o término do serviço e certifique-se para que ele seja adequadamente reinstalado;
- Quando remover o isolamento para um serviço de manutenção, aproveite a oportunidade para examinar o equipamento ou tubulação. Se observar sinais de corrosão, reporte isso para a gestão para que especialistas possam inspecionar o equipamento.
Bom isolamento térmico (instalação e conservação) minimizam a ação da CUI. |
7. Para os operadores de processo:
- Observe isolamentos danificados ou outros sinais de CUI durante suas atividades e reporte suas observações à gestão para que o isolamento danificado possa ser reparado e o equipamento inspecionado, se necessário.
- Ao final de uma manutenção, verifique o isolamento para certificar-se que ele seja recolocado adequadamente.
- Se danificar algum isolamento no curso de seu trabalho, registre isso e providencie para que seja reparado.
"ISTO NÃO TEM QUE ACONTECER." |
Fonte:
Center for
Chemical Process Safety – CCPS
Ivo Andrei Lima do blog A
Engenharia e o Conhecimento .
Explanação das aulas ministradas pelos professores Maurício de Oliveira, Luiz Antônio Bereta e Nestor Ferreira de Carvalho
Explanação das aulas ministradas pelos professores Maurício de Oliveira, Luiz Antônio Bereta e Nestor Ferreira de Carvalho
da Equipe de
Formação de Inspetores – EFI / SINDIPETRO-LP.
COMO NO CASO DAS PERNAS DA ESFERA; PARECE QUE A CORROSÃO SE DEU POR TRINCA NO REVESTIMENTO DE CONCRETO COM INFILTRAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA. UM VISUAL CRITERIOSO FALTOU PARA OS INSPETORES QUE AVALIARAM SOMENTE O ASPECTO DA ESFERA APENAS.
ResponderExcluirEu como inspetor, sempre identifico, e indico, pontos da estrutura caso necessite reparos.
ExcluirAgora o cliente não costuma se importar com isso.
O artigo está bom, porém o título deveria ser alterado. O Isolamento térmico possui as funções de conservação de energia, e acústico e proteção pessoal, nunca foi fabricado para barrar e/ou conter o processo corrosivo.
ResponderExcluirPerfeito professor Sampaio....mas o intuito é corrigir tal pensamento. Acredite... tem gente que pensa que o isolamento térmico também tem a função de proteger o equipamento contra a corrosão. O título realmente chama a atenção para esse "desvio de entendimento" e o texto enfatiza isso.
ExcluirObrigado pela sugestão.
Muito boa essa matéria pois trata de uma causa muito comum nas plantas de todo o mundo.
ResponderExcluirBom post.
ResponderExcluirCASI - Corrosão Atmosférica sob Isolamento. Fenômeno corrosivo já estudado,analisado e atacado preventivamente e exaustivamente desde os idos dos anos 90 na P.Q.U. Stº André - SP.
ResponderExcluirJorge Batista
Por isso que muitas empresas já utilizam Insulation Coatings. Este tipo de tecnologia já tem provas dadas no Brasil em muitos setores como Petróleo, alimentar, papel e celulose, etc. Além disso porque insistir no erro em colocar um isolamento térmico convencional que já á partida sabemos que ira dar problemas em poucos tempo? Numa altura em que todas as empresas buscam soluções com ROI e Sustentabilidade os isolamentos convencionais em temperaturas de até 157,5ºC dão problemas. Desde há alguns anos os Insulation Coatings estão a ser usados e já estão especificados por varias multinacionais e empresas nacionais.
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