Em 9 de dezembro de
1986, em Surry County, no estado da Virgínia, nos EUA, uma curva de 90° de 18” do
sistema secundário da Unidade Nº 2 da Surry Nuclear Power Plant, operada pela Virginia
Electric Power Company, falhou catastroficamente matando quatro funcionários e
ferindo gravemente mais duas pessoas. A curva estava posicionada a montante da
bomba de água de alimentação gerador de vapor (linha de sucção).
A usina nuclear de Surry iniciou sua operação em maio de 1973 e funcionou 76.600 horas antes do acidente. |
O material da tubulação
era de aço-carbono (ASTM A234) com uma espessura de parede de 0,5 polegadas
(12,7 mm). A causa da falha foi indicada como corrosão-erosão.
CONDIÇÕES DE OPERAÇÃO
A fratura
da curva ocorre quando uma válvula da linha é fechada a jusante da bomba de
alimentação de água para o gerador de vapor que por sua vez resfria a água
vinda do reator nuclear. Esse fechamento é previsto para evitar o resfriamento
excessivo do reator e, portanto a linha era projetada para resistir ao aumento
de pressão nos trechos a jusante e a montante da bomba por alguns segundos até a
liberação do fluxo excedente por uma linha de descarga para fora do sistema.
A INVESTIGAÇÃO
Logo
após o acidente, o Surry Nuclear Power Plant colocou imediatamente em prática o
Plano de Emergência e a comunicação de circunstâncias anormais foi emitida,
colocando-a em estado de "Alerta" e acionando assim a Comissão
Reguladora Nuclear dos EUA (NRC).
A NRC
tomou a decisão de enviar uma equipe de
inspeção para investigar o caso, paralelamente ao grupo de gerenciamento
criado pela Virginia Electric Power Company encarregado de investigar a causa
da ruptura e a segurança operacional.
A fim de tentar
encontrar a causa da ruptura da curva, várias análises foram efetuadas:
- especificação do material;
- integridade do material;
- metalografia;
- condições de superfície interna da tubulação;
- análise mecânica da fratura;
- espessura da parede de tubulação.
Uma vez que a perda de
espessura pela erosão-corrosão era a principal suspeita pelo acidente, uma análise
química da água do sistema secundário foi realizada.
CAUSA
A
curva de aço carbono estava exposta a água pressurizada do sistema secundário de
refrigeração do reator. A combinação da química do sistema de água com pH 8,8 à
9,2 foi considerada inadequada propiciando a corrosão do aço-carbono. Uma vez
que uma liga de cobre foi utilizada no sistema, a proteção adequada à corrosão
do aço-carbono não pode ser mantida sob um pH mais elevado.
Outro
aspecto importante é que a curva
fraturada não era objeto de inspeção periódica e nem acompanhada em paradas de
manutenção, portanto, o acompanhamento de perda espessura não era realizado.
Além disso, próximo à montante da curva de 90 °, onde ocorreu a ruptura, foi
instalada indevidamente uma linha de derivação. Por este motivo, criou-se um
escoamento turbulento incidindo diretamente na região da curva resultando na
progressão severa da perda de espessura da parede, agravando o mecanismo de corrosão-erosão.
MEDIDAS PÓS-PERÍCIA DE INSPEÇÃO
Substituição
da tubulação do sistema secundário na Unidade de Surry No.2 onde a inspeção
feita pelas equipes de peritos detectou perda de espessura por corrosão-erosão,
ou seja, a linha vinha sofrendo esse mecanismo de deterioração em outros
trechos sem que a empresa tivesse conhecimento, devido a falta de inspeção;
A tubulação
foi substituída de acordo com os seguintes critérios:
- A aprovação de aço inoxidável que tem uma resistência mais elevada corrosão do que o aço carbono;
- Adoção de tubulação de maior diâmetro, diminuído a velocidade do fluxo, a fim de reduzir desgaste da parede pela erosão.
- Mesmo quando adicionado na água amoníaco e hidrazina para a prevenção de corrosão do aço carbono, devido uma velocidade de fluxo elevada a corrosão-erosão pode não ser evitada;
- Na parte em que a velocidade do fluxo é maior, o desgaste da parede deve ser medido periodicamente e a tendência de adelgaçamento da parede tem de ser prevista (taxa de corrosão);
- Considerar em casos extremos a seleção de um material com maior resistência à corrosão-erosão;
- Substituir a tubulação por outra de maior diâmetro, a fim de diminuir a velocidade do fluxo;
- Melhorar a disposição física (aprimorar o traçado) a fim de evitar a ocorrência de locais de alta velocidade de fluxo.
O
projeto do sistema secundário do reator de água pressurizada foi baseado na
concepção de equipamentos de turbina de uma usina térmica e não nucelar. Por
esta razão, uma liga de cobre, foi adotada como o material para o tubo de
permutador de calor (steam generator) que antecede a curva de aço de carbono.
Uma
vez que o desgaste dos tubos do steam generator foi observado, utilizou-se o
carbonato e o ácido fosfórico, no controle do AVT (ácidos voláteis totais) como
tratamento de resistência à corrosão de modo a que ambos, o aço carbono e a
liga de cobre fossem protegidos.
Porém
ao que tudo indica a velocidade elevada do fluxo no sistema secundário foi a
principal causa do desgaste da curva fraturada de aço carbono na usina de Surry
County.
Geralmente
inspeção por medição da espessura da tubulação é o modo mais eficaz de se
controlar esse mecanismo de deterioração (corrosão-erosão), juntamente com o controle
químico da água.
Podemos
afirmar que, se um material que não tenha excelentes propriedades de
resistência à corrosão é utilizado nos trechos da linha de velocidade de
escoamento elevada, a corrosão-erosão irá ocorrer principalmente quando há mudança
repentina de velocidade ou fluxo turbulento. Além disso, quando é observado desgaste
severo na parede da tubulação, é prudente inquirir o modo de proteção corrosivo
mais adequado no que diz respeito ao controle químico de água.
Seis
das oito pessoas que estavam substituindo o isolamento térmico nas proximidades
da curva fraturada foram afetadas pela água quente oriunda da tubulação. Quatro
deles morreram, e dois deles sobreviveram apesar das queimaduras graves.
Apesar
da gravidade do acidente, as consequências do mesmo, não causou nenhum dano ao
reator nuclear.
Fonte:
Murakami,
Hiroyoshi (Companhia de Energia Atômica do Japão).
Kobayashi,
Hideo (Universidade Nacional de Yokohama).
Corrosão,
Vicente Gentil, 2012.
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