Alguns casos na inspeção são
realmente curiosos. Relacionado à corrosão, existem casos que embora seja
possível estabelecer a causa e o mecanismo do processo corrosivo, muitas vezes
é difícil identificar imediatamente o agente causador do processo. Assim,
inspetor tenta estabelecer teorias com base no seu conhecimento técnico para
poder identificar o causador, mas a dificuldade é imensa quando o agente
causador não está na lista das causas habituais, prováveis e conhecidas na área
da inspeção. Especialmente quando o agente causador é um animal.
Ocorrência 01:
Em uma fábrica de válvulas de
latão, o produto final eram embalados em sacos de aniagem e estocados até serem
fornecidos ao cliente. Durante a utilização destas válvulas, algumas
apresentaram fraturas. Inicialmente não se conseguiu determinar a causa para a
ocorrência das fraturas já que o material resistia perfeitamente às condições operacionais
e acompanhava as especificações de projeto.
Durante o processo de investigação, uma visita às instalações do
fabricante das válvulas foi realizada. No galpão de estocagem das válvulas de
latão, foi notado um forte odor de urina, que logo foi associado a ratos que
frequentavam o galpão. Essa constatação tornou possível estabelecer a causa das
fraturas quando averiguado, posteriormente, que a urina de rato contém teor de
amônia suficiente para provocar a corrosão no latão estabelecendo assim o mecanismo
de corrosão sob tensão.
O problema foi solucionado com o
uso de sacos plásticos ao invés de saco de aniagem para estocar as válvulas e
afastadas da presença de ratos, já que se chegou ao consenso que seria
impossível extinguir definitivamente a população de roedores.
Ocorrência 02:
Em uma empresa norte-americana
que fabricava e exportava painéis automotivos para o Japão, em algumas peças de
tempo em tempo (algumas vezes), apresentavam corrosão acentuada nos flanges de
aço-carbono destes painéis. Análises indicaram altas concentrações de cloretos.
Suspeitou-se que o problema era no transporte marítimo ao Japão, mas a
quantidade de cloreto em água salina era menor que as encontradas nos flanges
dos painéis. Através de muita observação, foi possível perceber o agente
causador do mecanismo de corrosão. Uma grande quantidade de gatos “povoava” o
galpão de estocagem dos painéis em razão dos funcionários alimentarem
inadvertidamente os pequenos felinos (quem iria imaginar?). O problema é que a
urina dos gatos escorria pelos painéis e acumulava-se nos flanges. Essa urina
quando evaporava não eliminava o cloreto sendo que este aumentava sua
concentração e consequentemente a corrosão do aço carbono (flanges) era iniciada.
A solução para o problema foi a
contratação de uma firma especializada para remover os gatos de forma mais
civilizada possível. Creio que ficou
proibido alimentar gatos nesta fábrica.
Ocorrência 03:
Pombos também são um problema. |
Ocorrência 04:
Já foi constado que revoadas de
pássaros, podemos citar como exemplo andorinhas, que em seus “voos coletivos”
depositaram grande quantidade de dejetos sobre estruturas metálicas revestidas
com tintas, onde ocorreu a deterioração destas camadas de pintura, abrindo uma
frente de corrosão por “falha do revestimento”.
Ocorrência 05:
Outras ocorrências de corrosão
associada a pássaros acontecem quando ninhos de passarinhos são feitos em
perfis de estruturas metálicas. O ninho cria condições propicias para a
corrosão por aeração diferencial, ou sob depósito, chegando a corroer estes
perfis até sua perfuração sob os ninhos.
OBSERVAÇÃO:
Somente para registro. No
ano de 2006, em um trabalho que realizei para uma consultoria no Porto de
Santos/SP, cuja finalidade foi o levantamento das fontes poluidoras do porto
para a Companhia Docas do Estado de São Paulo - CODESP, foi observado grande quantidade de dejetos de pombos em muitas
estruturas e equipamentos portuários (guindastes, correias transportadoras,
estruturas de telhados de armazéns, entre outros). A deterioração da pintura
nesses equipamentos e a corrosão foram comumente observadas. Aliada ao ambiente
marinho, os dejetos de pombo além de ser problema de saúde pública, influencia
na integridade física dos equipamentos portuários.
Porto de Santos. |
Fonte:
Gentil, Vicente.
Corrosão. Rio de Janeiro. 2012.
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