O desastre Feyzin ocorreu em uma
refinaria (dirigida na ocasião pela ELF), perto da cidade de Feyzin, a 10 km ao
sul de Lyon, França, no dia 4 de janeiro de 1966. Um vazamento de GLP ocorreu
quando um operador estava drenando a água de uma esfera pressurizada de
armazenamento de propano de 1.200 m³.
A nuvem de vapor resultante do vazamento se
espalhou rapidamente, até que houve a ignição, iniciando incêndio, provocado provavelmente por um
carro que transitava em uma estrada adjacente fora do perímetro da refinaria.
O propano represado pelo dique de
contenção engolfou em chamas a esfera que rompeu-se produzindo um BLEVE
(Click AQUI e saiba o que é isso). Isto resultou em uma bola de fogo que
matou e feriu bombeiros e curiosos. A explosão quebraram as pernas de uma esfera adjacente levando
esta a produzir um novo BLEVE. Mais três esferas foram derrubadas devido ao colapso das pernas de apoio que não
eram a prova de fogo (não tinham
proteção alguma). Essas três esferas também foram rompidas s, mas não explodiram.
O incêndio levou 48 horas para ser controlado. Este incidente resultou na morte
de 15 pessoas e 81 feridos.
A refinaria de Feyzin operava com
cerca de 250 pessoas no momento do incidente e tinha uma capacidade de
processamento de cerca de 2 milhões de toneladas de petróleo por ano (40 mil
barris por dia, aproximadamente). As principais unidades de refino estavam
instaladas ao norte de uma estrada local.
As principais áreas de
armazenamento estavam situados ao sul desta estrada em uma faixa de 145 m de
largura ao lado de uma cerca de divisa com a auto-estrada. Esta foi a área em que ocorreu a catástrofe.
Os equipamentos nesta área
consistiam em:
Quatro vasos esféricas de 1.200 m³
utilizadas para o armazenamento de
propano.
Quatro vasos esféricos de 2.000 m³
utilizados para o armazenamento de butano.
Dois vasos de pressão horizontais
de 150 m³ utilizados para propano e o
outro butano.
Dois tanques atmosféricos com
teto flutuante com combustível de aviação um com 2.500 m³ de gasolina e o outro com 6.500 m³ de
querosene.
As esferas de GLP (Gás Liquefeito
de Petróleo) estavam localizadas a cerca de 450 m de distância da unidade de
refinamento e a cerca de 300 m das residências mais próximas. A distância mais próxima entre uma esfera e da
autoestrada era foi 42,4 m, e os espaçamentos entre as esferas variava entre de
11,3 m e 17,2 m. Cada uma das esferas tinha um spray de água fixo na parte
superior e outro na meia-altura, além de um pulverizador de água adicional e
exclusivo direcionado para as ligações inferiores.
A EXPLOSÃO
A cada duas horas, os
trabalhadores eram obrigados a tirar uma amostra de rotina de cada um dos
tanques de armazenamento de GLP. Uma equipe composta por um operador da planta,
um bombeiro e um técnico de laboratório retirava uma amostra da esfera T 61443.
O operador, devido ao fato de que ele
tinha apenas uma única chave de válvula, abriu as válvulas na ordem incorreta.
Quando ele abriu a válvula
inferior, provocou a liberação de uma pequena quantidade de soda cáustica e gás.
Desta forma, o operador volta a fecha-la e reabri-la, verificando somente
poucas gotas sendo liberada. Sem
retornar a fechar a válvula inferior, ele abre totalmente a válvula superior. Um grande erro. Essa manobra
operacional provocou um poderoso jato de propano que ao bater com o piso, boa é
lançada em direção ao operador que sofre queimaduras a frio no rosto e no
antebraço (propano líquido em temperatura baixa). Quando o operador recebe esse
jato indireto de propano líquido, o mesmo, extintivamente, recua bruscamente
para se proteger não conseguindo posicionar a alavanca da válvula na posição de
fechamento. O bombeiro, perdendo de vista do operador em meio do gás que se
forma rapidamente do propano líquido, ligou o abastecimento de água para os
pulverizadores (sprays d’água) da esfera.
O operador, ainda tentou
reposicionar a alavancar da válvula e fechá-la. Não obteve êxito.
Eram aproximadamente 06h 40 min quando os três trabalhadores correram para soar o
alarme e procurar ajuda não utilizando o telefone e nem o veículo que os
transportou até a esfera pois tinham receio de iniciar um incêndio devido a
grande quantidade de gás que escapava no local. Eles foram bem sucedidos em soar
o alarme e logo o tráfego foi interrompido na auto-estrada nas proximidades. No
entanto, o gás que escapava inflamou.
Os bombeiros prontamente
combateram o fogo, mas eles não foram treinados para controlar um evento BLEVE.
Enquanto eles tentavam resfriar as esferas de gás ao redor, a esfera T 61443 explodiu, matando vários bombeiros. A explosão
também causou um efeito dominó e outra esfera foi derrubada, iniciando outro
vazamento de gás e assim sucessivamente em mais três esferas sendo que o BLEVE
foi observado somente nas duas primeiras.
AS LIÇÕES APRENDIDAS COM FEYZIN
O desastre Feyzin foi o pior
acidente que ocorreu em plantas de petróleo e petroquímica na Europa Ocidental,
antes do desastre Flixborough em 1974 (Caso 020 - click aqui),
sendo que o pior incêndio em um terminal de óleo na Europa Ocidental foi em Buncefield em 2005 (Caso 009 - click aqui).
A partir do desastre de Feysin,
muitos tanques pressurizados (principalmente esferas de armazenamento) que
contenham gases liquefeitos com perigo de
BLEVE, são mais protegidos contra
o fogo por melhores projetos já que o BLEVE ficou sendo melhor compreendido
pela engenharia após Feysin (pelo menos na Europa) .
Outro ponto foi a atuação mal
sucedida dos bombeiros e militares de emergência em Feysin sendo que muitos
foram mortos enquanto tentavam controlar os incêndios. Hoje uma das saídas mais
cautelosa traçadas desde Feysin é evacuar e se abrigar até que o material queime
por si mesmo (logicamente cada caso é um caso e ao longo dos anos muitas
técnicas e dispositivos de controle de incêndio foram desenvolvidos). O BLEVE produz
uma radiação térmica intensa a partir da bola de fogo. Portanto, a evacuação de
até 0,5 km geralmente garante a segurança das pessoas. Os incêndios de recipientes
de armazenamento de hidrocarbonetos são eventos espetaculares e atrai muitos
curiosos. Portanto, jornalistas e curiosos devem ser mantidos longe e em
segurança, pois o “comportamento” deste tipo incêndio é pouco previsível.
MUDANÇAS NA FRANÇA
- Revisão dos procedimentos operacionais e melhor treinamento dos operadores;
- Uma nova classificação de hidrocarbonetos líquidos ou liquefeitos tratando não só os critérios de ignição, mas como o tratamento e das condições de armazenamento: o produto reaquecido, o produto liquefeito, sob pressão, entre outros;
- A definição de zonas perigosas ou de perigo propenso ao redor instalações petrolíferas prevendo a presença de vapores inflamáveis durante o funcionamento normal ou em condições anormais da planta;
- Atribuição de regras de localização e distâncias a serem respeitadas entre as instalações industriais ou entre indústrias, bem como os seus entornos (casas, estradas, edifícios públicos);
- A definição de novas regras para equipamentos de armazenamento de hidrocarbonetos, incluindo as linhas de purga e válvulas de segurança, projetados agora na situação hipotética de um incêndio generalizado.
- A definição de novas regras de projeto para equipamentos de combate a incêndios, para as instalações de armazenamento de hidrocarbonetos líquidos e tanques de armazenamento de hidrocarbonetos liquefeitos: essas regras devem lidar com a extinção do fogo (água e espuma concentrado) e o arrefecimento das instalações adjacentes;
- A publicação dos regulamentos gerais de segurança (regra elementar de segurança e ações a serem executadas no caso de um acidente) e instruções em relação a fabricação, as operações de manutenção e de trabalho(incluindo licenças de queima) e de inspeção de equipamentos.
Fonte:
Governo Francês / Ministério do
Meio Ambiente.
The Feyzin disaster, Loss Prevention Bulletin;
Issue 077, October 1987, IChemE, UK.
Excelente matéria.
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